Ode ao mutismo

Sob o manto negro infinito do céu que se perfura com o pontilhado da luz distante dos astros, o silêncio na terra, esse murmúrio melodioso das criaturas, parece nos lembrar de como são toscas as palavras que utilizamos para tatear aquilo que pertence à realidade sensível.

Era uma vez... (1930-2007) Aqui Ô...


Não é novidade que os jornalecos que ostentam a tríade bunda-sangue-futebol tomaram conta das ruas da província. Circulam ao preço de balinhas para satisfazer o fetiche pelo sensacional, como se a urgência do noticiar se amparasse na contundência trágica do mundo cão cotidiano, realidade que se emoldura com os tons festivos das carnes femininas e do vale tudo samba futebol.

Após 77 anos de circulação, no apagar das luzes do mês de julho, os Diários e Emissoras Associados jogaram a pá de cal no jornal Diário da Tarde. Os motivos alegados são os de sempre: tiragens cada vez mais minguadas, anunciantes que se escorregam para publicações outras, estalos geniais de homens de negócios que inserem alguma gota de factualidade em meio à predominância da publicidade que paga o noticioso. Sim, a imprensa é um negócio, um empreendimento como qualquer outro. Ergue e desfaz suas empreitadas ao ritmo do tintilhar sinfônico dos cobres.

Ainda que sua natureza editorial fosse quase sempre sensacionalista, vão deixar saudades certas narrativas impressas no então tradicional e popular DT. Preciosidades como um informe sobre um assalto numa estação do metrô do Arraial, publicada em uma já distante quinta-feira de 1º de fevereiro de 2007:

Assaltante preso no metrô

"O biscateiro Júnio dos Santos Borges, de 23 anos, o Cabuloso , foi preso em flagrante na tarde de ontem, logo depois de assaltar um vendedor ambulante dentro da estação do metrô do Bairro Eldorado, em Contagem, Grande BH. Ele agiu com o irmão Wagner dos Santos Borges, de 25. Com ele, foi apreendido um revólver Rossi calibre 38 com munição. Entre seus documentos, havia um bilhete, supostamente escrito por ele, cujo teor era uma mensagem em que dizia que já tinha feito mais de 100 assaltos, mas que agora se regenerou . O bilhete citava a namorada dele, de nome Cláudia , quando dizia que ela o ajudou muito a sair da vida do crime e que agora se tornara um novo homem".

Que venha a era do jornalzim panfletim.