A culpa


Dizem que no seu apogeu, Vila Rica - mais tarde chamada definitivamente de Ouro Preto - era mais populosa do que Londres e Paris. Narrativas acusam uma proporção de escravos e homens livres de três para um na metade do século 18. As razões de tal ordenamento são bastante conhecidas, cujas motivações se encerram na finalidade econômica com a qual a Corôa Portuguesa fez nortear os traçados dos caminhos e picadas que conduziam ao eldorado barroco.

É digna de menção a igreja que homenageia o chamado São Francisco de Assis, ícone católico que a história da cristandade atesta ter proclamado o modo de vida simples e essencial, nos limites entre a pobreza e a miserabilidade, sem qualquer sinal de luxo ou ostentação. Os templos ouro-pretanos, a exemplo da Igreja São Francisco de Assis, erguidos durante a efervescente corrida ao ouro, exibem exuberante fausto. São pomposamente adornados, recobertos com detalhes dourados, entalhes encrustados do ouro das minas, como se louvassem, com todos os indícios de riqueza, justamente aquele que, entre os crentes e tementes das forças celestiais, era o mais avesso à materialidade mundana.

Por certo, não é gratuita a corrente idéia de que o barroco abriga a contradição das consciências, das mentalidades e das estéticas.

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